O artigo a seguir tem como objetivo relacionar o renascimento e o maneirismo. De certa forma, separar movimentos artísticos é algo que não pode ser feito totalmente. Um movimento sempre tem uma ou outra característica do outro. O motivo? Simples, um movimento ajuda a dar origem a outro. Uma mistura que de tempos em tempos vai se renovando e se diferenciando porém nunca separando. Primeiro será feita uma breve definição de cada movimento abordado para melhor compreensão do conteúdo.
1.1
O renascimento como entendemos hoje, é uma conceção estabelecida pelo historiador suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) em seu livro” A cultura do Renascimento na Itália (1867)”, que define o período como de grande florescimento do espírito humano, espécie de “descoberta do mundo e do homem”.
”É possível afirmar, sem entrar na discussão dos limites cronológicos do renascimento, que os artistas do período se orientam por ideais de perfeição, harmonia, equilíbrio e graça – representados com o auxílio dos sentidos de simetria e proporção das figuras – de acordo com os parâmetros ditados pelo belo clássico. Algumas obras de Michelangelo Buonarroti (1475-1564) exemplificam a realização do modelo clássico, seja nos estudos de anatomia para composições maiores (Estudo para uma das Sibilas no teto da capela Sistina), seja em esculturas, como o célebre Davi (1501/1504). As imagens de Rafael (1483-1520), por sua vez, dão plena expressão aos valores da arte renascentista, destacando-se pela beleza projetada segundo os padrões idealizados do universo clássico (A Ninfa Galatéia, ca.1514). O desenvolvimento das pesquisas científicas, por sua vez, fornecem subsídios para a produção de novos métodos e técnicas. A perspectiva, impulsionada por Filippo Brunelleschi (1377-1446) e descrita por Leon Battista Alberti (1404-1472) no tratado Della Pittura (1435), altera de modo radical os modos de representação e as concepções de espaço. A nova ciência da perspectiva é colocada em prática por uma série de artistas. Masaccio (1401-1428) é considerado exímio na aplicação das conquistas científicas à arte da representação.
Mona Lisa, de Leonardo da Vinci sem data e propósito. por quê esta imagem? precisa de legenda
1.2
O maneirismo ocorre especialmente na Itália, entre 1520 e 1600, ou seja, entre o fim do Alto Renascimento e o início do Barroco. O termo é popularizado por Giorgio Vasari (1511 – 1574) – ele próprio um artista do período – que fala em maniera como sinônimo de graça, leveza e sofisticação. Nos escritos posteriores de Giovanni Pietro Bellori (1613 – 1696) e de Luigi Lanzi (1732 – 1810), a noção aparece ligada à elegância artificial e à virtuosidade excessiva. Essa chave crítica de leitura, que reverbera em diversos estudos posteriores, associa maneirismo à decadência em relação à perfeição clássica representada pelas obras de Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564) e Rafael (1483 – 1520).
”A arte maneirista passa a ser pensada como um desdobramento crítico do Renascimento. O corte com os modelos clássicos se observa, entre outros, pelo rompimento com a perspectiva e com a proporcionalidade; pelo descarte da regularidade e da harmonia; pela distorção das figuras; pela ênfase na subjetividade e nos efeitos emocionais; pelo deslocamento do tema central da composição.”
Domenico Beccafumi ”Queda dos Anjos Rebeldes”
2 . 1
Assim como muitos pintores renascentistas as obras de Benozzo Gozzoli possuem traços de outros movimentos. Gótico , Barroco, maneirista e etc… ??? Benozzo Gozzoli viveu entre 1421 e1497. É complicado dizer que suas obras possuem “traços de outros movimentos” que ainda nem haviam existido em sua época. Melhor dizer que “traços que se aproximam do” por ex.
Benozzo Pintor renascentista tem como característica marcante pintar grupos de pessoas em procissões ou por meio de ações de alto drama, situados em paisagens imaginativas ou cenas com fundos arquitetônicos. Batizado como Benozzo di Lese di Sandro, nasceu em Florença discípulo do pintor Fra Angelico, Gozzoli se tornou um dos maiores mestres da escola florentina.
São Domingos Reuscitates Napoleone Orsini – 1461
A foto acima trata-se do quadro ‘’São Domingos Reuscitates Napoleone Orsini’’. têmpera – 25 x 35 cm – 1461 – (Pinacoteca di Brera (Milan, Italy). Uma composição predominantemente clara suas cores são vivas e brilhantes. Como no maneirismo o azul e o vermelho saltam aos olhos. Não há sombra embora se tenha luz. A ação está dividida em duas partes a ação do primeiro plano ( figura A.1) e a ação do segundo plano ( figura A.2) dando ao observador dois pontos de atenção.
Figura A.1
Figura A.2
Outro evento que chama atenção nesse quadro é a organização do espaço, o agrupamento do lado direito causa uma certa dificuldade em determinar quantas figuras humanas fazem parte da cena.
Suas obras continham também um esforço consciente para criar obras de arte que apelavam para a classe camponesa ignorante, bem como do clero, que o procuravam.
Procissão dos Reis Magos (Palácio dos Medici):
A Procissão dos Reis Magos é um exemplo de pintura renascentista com uma de suas principais características como o naturalismo. Com a presença da diversidade da fauna e flora exaltada no espaço.
Características Maneiristas encontradas neste afresco de Benozzo são raras, mas estão presentes. Tal presença decorrida ainda da influencia medieval sob a técnica do pintor, que teve participação no início do período renascentista.
Na pintura os verdadeiros protagonistas ainda se posicionam no centro do quadro que já era característica da renascença, entretanto, há uma inicial confusão no olhar até localizar as personagens secundárias, dando uma ideia maneirista. Outro ponto é a multidão de figuras que se comprimem ao fundo.
Também deve-se citar a fidelidade do pintor com o corpo, pois ainda não colocava em prioridade, dando maior valor à simbologia e à retratação ao fresco, ainda pela influência medieval. O corpo sem proporção é resgatado no maneirismo só que nele, as formas são esguias e alongadas, substituindo os membros bem torneados do renascimento e os músculos fazem agora contorções absolutamente impróprias para os seres humanos.
//não seriam essas características reverberações góticas?
2 .2
Até então foi feita a análise de uma obra renascentista com características maneiristas, agora é a vez de um exemplo (Além de da Vinci) que retrate o renascimento em sua essência. O artista escolhido foi Ticiano Vecellio.
Tiziano Vecellio nasceu em Pieve di Cadore por volta de 1490. Aos nove anos de idade foi enviado a Veneza para viver com um tio e tornou-se aprendiz de Sebastiano Zuccato, mestre de mosaico. Pouco depois ingressou no ateliê de Gentile Bellini. Seus maiores mestres, no entanto, foram Giovanni Bellini, irmão de Gentile, e Giorgione Castelfranco, renovador da pintura veneziana.
Suas características marcantes são: intensa dramaticidade, firme modelagem das figuras e tendência aos contrastes de luz e sombras.
CARLOS V A CAVALO EM MÜHLBERG
Museu do Prado, Madri
Representação do Imperador da Alemanha e rei da Espanha como triunfador na Batalha de Mühlber (24 de abril de 1547).
‘’Há um contraste tonal entre a figura negra do animal e o dourado rutilante da armadura, entre a postura guerreira e o ambiente plácido. Ritmo e movimento – patas erguidas, lança em riste – são um tanto contrastantes se comparados com a expressão tranquila do rosto. De qualquer forma, a pintura não quis dar ênfase à derrota militar, e a paisagem ao fundo é plácida sem tropas, nem representação alguma dos inimigos derrotados.’’
3.0
O que chama mais atenção no contraste entre Benozzo e Ticiano é a organização do espaço. Benozzo distribui focos de atenção, causando uma certa instabilidade e confusão do olhar. Dificuldade em determinar a quantidade de elementos , uso de tons claros enquanto Ticiano põe uma única figura em evidência. Dando consequentemente um foco de atenção. Usa e abusa dos tons escuros e de toda dramaticidade da luz.
Por: Cilene Bispo , Jessica Maria e Maria Fernanda Gomes
Fontes de pesquisa:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3189/maneirismo
http://www.historiadaarte.com.br/linha/maneirismo.html
http://www.epdlp.com/pintor.php?id=2858
http://www.sabercultural.com/template/obrasCelebres/Carlos-V-A-Cavalo-Tiziano-Vecellio.html
http://pt.wahooart.com/@/BenozzoGozzoli
ARGAN, Giulio Carlo. Clássico anticlássico. O Renascimento de Brunelleschi a Bruegel. Introdução, tradução e notas Lorenzo Mammi. São Paulo, Cia. das Letras, 1999, 497 pp. il. p&b. color.
História das Artes Visuais 3 - 2014-2 